sexta-feira, 18 de agosto de 2017

RNA de embustes e descaso para com os contribuintes



A emissora do Wako Kungo e o site nacional entraram em “inexplicável afonia”
A relação do poder político com os cidadãos em Angola é consabidamente pautada pelo descaso de quem decide em relação àqueles que num passado não muito distante chamava garbosamente de “massas populares”.

CORREIO ANGOLENSE

O Poder desrespeita reiteradas vezes os cidadãos e sequer se dá ao trabalho de justificar as suas tomadas de decisões ou actos administrativos. Um exemplo disso mesmo aconteceu na última semana de Julho, quando foi inaugurada a Rádio Waku Kungo, uma das muitas emissoras que o grupo RNA tem estado a instalar país afora nos últimos tempos. A esse esforço, como se sabe, não estão alheias as eleições que se realizam no dia 23 próximo. Afinal, e como é legítimo, mesmo tendo colocado o país nos últimos lugares dos diversos rankings mundiais, o governo do MPLA quer continuar no poder!
Com pompa e circunstância, a 28 de Julho último o ministro da Comunicação Social, José Luís de Matos, inaugurou a nova estação “no âmbito da expansão do sinal da rádio em todo o território nacional”. No acto estiveram presentes o governador da província do Kwanza-Sul, altos funcionários do Ministério da Comunicação Social, PCA da TPA e administradores da Angop e Edições Novembro, autoridades tradicionais e religiosas.
Como acontece nessas circunstâncias, a barulheira foi ensurdecedoramente fastidiosa, os noticiários das rádios e televisão estatais ocuparam largos minutos com a “notícia”, dando ênfase ao “excelente” trabalho do Executivo e à “clarividência” do “camarada presidente”. Como acontece em momentos de verdadeira “euforia revolucionária” como estes, seguiu-se um regabofe para celebrar o “grande feito”, uma vez que o sinal acabado de inaugurar era também ouvido – pelo menos teoricamente – nos confinantes municípios de Kasonge, Kibala e Ebo.
Seguramente, quando o ministro e a sua delegação deixaram a cidade que já se chamou Santa Comba Dão fizeram-no com o sentimento de dever cumprido. O que o dignitário e seus acompanhantes não sabiam é que foram vítimas de um embuste, uma vez que pouco depois de darem as costas, a emissão da rádio chamada “comunitária” foi abaixo. Ou seja, simplesmente saiu do ar e deixou de ser ouvida durante largos dias.
Ao que o Correio Angolense apurou no local, a “queda” do sinal não se deveu a problemas de natureza técnica, como se podia inicialmente pensar, uma vez que é comum nas esferas do Poder comprar-se gato por lebre. Tinha única e exclusivamente a ver com falta de combustível nos geradores que abastecem a emissora. É que, para a inauguração do “edifício moderno, do ponto de vista tecnológico e muito avançado, que comporta dois estúdios, redacção, um gabinete e uma central técnica”, como informou a agência estatal ANGOP, um benfeitor local havia oferecido alguns litros de combustível no valor de AKZ 100.000,00 só para o acto, “para inglês ver”... Ou seja, só para a inauguração.
Por isso, pelo menos até quase finais da semana passada a Rádio Waku Kungo continuava “muda” e à espera de um cheque de um milhão de kwanzas proveniente da direcção da RNA para aquisição de combustível a fim de devolver a “voz” à mais nova “filha” do grupo RNA pelo menos até ao dia 23 deste mês, data da realização das eleições. O que não se sabe é se um qualquer “chefe” não precisará de alguns litros lá para casa e o combustível sequer chegue para aguentar a emissora até ao “dia D”.
Estranho em tudo isso é o facto de, sendo o grupo RNA supostamente dirigido por gente com alguma formação, ter sido ignorado uma importante fonte de geração de energia eléctrica como as placas solares. É que, além de tudo, são limpas, funcionais e no longo prazo infinitamente mais baratas! Ou a instalação de geradores obedeceu à “tradição do cabritismo”, o mesmo que dizer da “comissão”?
Em matéria de embustes, porém, a RNA não se fica por aqui, havendo outro exemplo flagrante que todos fingem não ver. Trata-se do propalado site www.rna.ao, inactivo há já quase um ano, embora a emissora tenha um redacção específica para a plataforma, cujos trabalhadores continuam a receber os seus ordenados sem... trabalhar! Visto doutra forma, os contribuintes andam a pagar a vadios!
Mais estranho ainda neste caso particular, é ouvir os locutores dos principais serviços noticiosos da RNA remeterem os ouvintes para o site da emissora. “Para mais informações, consulte as notícias em www.rna.ao”, anuncia eufórico quase diariamente a voz de António Muaxilela após o noticiário da 20h00. Será que ele e outros na RNA não sabem que o site virou embuste?
Brincadeira tem hora, meus senhores!


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