quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

MPF DENUNCIA VIGARICES DO BISPO EDIR MACEDO


Já contei que, nas madrugadas, dedico alguns bons minutos aos programas dos pastores evangélicos que inundam a televisão aberta. É prática que recomendo ao leitor. Se as novelas consistem em ficções bobas para agrado de desmiolados, nos programas religiosos não há ficção alguma. É a realidade nua e crua: hábeis comunicadores extorquindo o último centavo de uma massa de crentes analfabetos ou semi-alfabetizados. Há milagres a granel. Pelo simples fato de comparecer ao culto, paralíticas passam a caminhar, ceguinhas passam a ver, cancerosos se curam de câncer, aidéticos se curam de Aids. Expulsam-se também demônios do corpo de endemoninhados. Aleluia! Louvado seja o Senhor Jesuis!
Meus diletos são o pastor Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Romildo Ribeiro Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus – mais conhecido como R. R. Soares – e Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus. A IURD foi fundada em 1977. Hoje está presente em quase 200 países, sendo mais disseminada nos de língua portuguesa. Após oito anos de fundação, dispunha de 195 templos em 14 Estados brasileiros. Trinta anos após sua fundação, a IURD possuía no Brasil mais de cinco mil templos, treze milhões de fiéis e quase 15 mil pastores.
R. R. Soares – cunhado de Edir Macedo – e Valdemiro Santiago são dissidências da IURD. Insatisfeitos com a partilha do botim, criaram suas próprias igrejas. Tendo fundado a sua em 1980, Soares conta com mais de 2.000 igrejas espalhadas por todo o país. Valdemiro Santiago, que tem apenas o quinto ano primário, desentendeu-se com Edir Macedo em 1997. Fundou sua igreja e em 2009, já dispunha de mais de 2.000 templos no Brasil e exterior. Nunca foi tão fácil enganar tanta gente em tão pouco tempo.
Soares já teve um total de 100 horas por semana de programação nas emissoras de alcance nacional, mas perdeu a posição de liderança para Valdemiro Santiago, agora o religioso com o maior tempo de exposição na TV aberta no Brasil. Fico perplexo, vendo aqueles milhares de panacas siderados pelas bobagens proferidas pelos bispos. A câmera insiste em dar closes nos rostos mais compungidos, olhos à beira das lágrimas, gestos de adesão incondicional ao embuste. Mas a vida é isso mesmo. Sem panacas, não existiria igreja alguma.
Não se vê um só assento vazio nos templos. Vazia deve ser a vida daquelas quatro ou cinco mil pessoas que lotam cada galpão. Que perdem noites de repouso ou lazer, convivência com a família, para ouvir o bíblico besteirol de vigaristas bem falantes. Não por acaso evangélicos e católicos estão agora disputando acirradamente as mentes dos bugres no Brasil. Os criadores de religiões desde há muito sabem que, nos dias atuais, só podem esperar colheita se semearam entre os brutos. Templo é dinheiro.
Em verdade, eu dedicava alguns minutos aos pastores. Cansei. Sempre a mesma lengalenga. Mesmo assim, de vez em quando volto lá. Vivo em um ambiente muito rarefeito, onde a vigarice não tem vez. Então, para ter uma idéia do vasto mundo que me cerca, sem precisar freqüentá-lo, recorro à televisão.
Segunda-feira passada, o Ministério Público Federal denunciou Edir Macedo e mais três vigaristas ligados à IURD por lavagem dinheiro e evasão de divisas, formação de quadrilha, falsidade ideológica e estelionato contra fiéis para a obtenção de recursos para a igreja. Segundo a denúncia do procurador da República Sílvio Luís Martins de Oliveira, o dinheiro era obtido por meio de estelionato contra fiéis da IURD, por meio do “oferecimento de falsas promessas e ameaças de que o socorro espiritual e econômico somente alcançaria aqueles que se sacrificassem economicamente pela Igreja”.
Ação semelhante já havia sido proposta em 2009 pelo Ministério Público Estadual, mas foi anulada pela Justiça estadual no fim do ano passado. O argumento usado foi que o assunto era da competência da Justiça Federal.
Um amigo de boteco, cuja firma administra o aluguel do Templo Maior da IURD em São Paulo, localizado no bairro Santo Amaro, contou-me detalhes interessantes. Com sete mil metros quadrados de área construída, tem capacidade para abrigar quatro mil fiéis, sendo o maior templo religioso da cidade. Sob o altar – ou como quer que se chame aquele palco de onde os bispos peroram – foi construída uma sala subterrânea. O que inclusive gerou problemas com a Prefeitura. Mas afinal não há nada que não se resolva com uma boa conversa, regada com certos incentivos.
O dinheiro dos dízimos cai diretamente do palco para a sala subterrânea. Dali é levado por túneis para distintos pontos da cidade. A Folha de São Paulo conta o resto da trajetória: o dinheiro é transportado em jatinhos e depositado em contas definidas pelos bispos, principalmente no Banco do Brasil e no Banco Rural. Uma primeira pergunta se impõe: o Banco do Brasil não se pergunta pela origem destes recursos? Aparentemente não. Afinal, desde 2000 a IURD é um dos mais fiéis aliados de Lula e do PT.
O transporte por subterrâneos parece ser generalizado. Segundo a denúncia do MPF, na maioria das vezes, os valores eram entregues por caminhões e chegavam em malotes. Houve ainda casos, segundo Cristina Marini, sócia da casa de câmbio Diskline, em que ela foi apanhar o dinheiro em subterrâneos de templos no Rio. Ainda segundo a doleira, a IURD começou a enviar dinheiro da Igreja Universal para o exterior em 1991. As operações teriam se intensificado entre 1995 e 2001, quando remetia em média R$ 5 milhões por mês, sempre pelo sistema do chamado dólar-cabo – o dono do dinheiro entrega dinheiro vivo em reais, no Brasil, ao doleiro, que faz o depósito em dólares do valor correspondente em uma conta para o cliente no exterior.
Desde há muito venho afirmando que as tais de igrejas neopentecostais são um caso de polícia. Sempre me espantou que tais pastores ainda não estejam na cadeia. Não é o caso apenas de Edir Macedo. Todos eles – e são bem mais que três – vivem da exploração da credulidade pública. Verdade que, se pensarmos um pouco mais, toda religião vive disto, inclusive a católica. Padres vivem de enganar o próximo. Dízimo não é invenção dos telepastores. Esta sagrada propina, é bom lembrar, já está no Levítico: Quanto a todo dízimo do gado e do rebanho, de tudo o que passar debaixo da vara, esse dízimo será santo ao Senhor.
A diferença é que a Santa Madre Igreja Católica não é tão agressiva na cobrança da propina que dá acesso à vida eterna. Mas qual Ministério Público ousará pedir a cabeça dos sacerdotes de Roma? Dois mil anos dão mais prestígio que duas ou três décadas.
Imagem: praxiscrista.blogspot.com

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