quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Grandes bancos pagam milhões para escapar à justiça


Maputo (Canalmoz) – Escândalos bilionários voltam a manchar a banca internacional. Cinco bancos pagam mais de 4,5 mil milhões e as investigações prosseguem.
Inevitáveis e vãs como um voto de abstinência numa manhã de ressaca, as promessas de moralização, autodisciplina e regulação que bancos e supervisores fizeram após a explosão da crise de 2008 parecem ter caído em saco roto. O ano de 2012 fica marcado por vários casos de polícia envolvendo algumas das maiores casas da finança internacional.
O escândalo de manipulação da taxa interbancária Libor é o que mais bancos atinge. HSBC, Royal Bank of Scotland e Barclays do Reino Unido, Citigroup e JP Morgan dos Estados Unidos, Deutsche Bank da Alemanha e UBS da Suíça, entre outros, são suspeitos de apresentarem estimativas artificialmente reduzidas dos juros que pagam para emprestarem dinheiro entre si, dados que são compilados pela Associação Britânica de Banqueiros (ABB) para estabelecer o valor da Libor, equivalente britânico da Euribor. Desta forma, tentaram apresentar uma falsa imagem de saúde financeira perante os nervosos mercados, mas o estratagema visava também um lucro rápido para os bancos e para vários dos seus administradores.
As investigações do Departamento de Justiça dos EUA e dos reguladores britânicos, suíços e nipónicos indicam pagamentos de subornos e falsificação de documentos. Até ao momento, UBS e Barclays são os bancos mais castigados. A instituição suíça aceitou pagar este mês uma multa recorde de 1,1 mil milhões de euros para arquivar o processo internacional de que é alvo. O Barclays pagou 340 milhões, foi penalizado pelas agências de rating e viu os seus CEO e chairman apresentarem a demissão e responderem perante o Parlamento britânico. Dois correctores britânicos implicados no caso, Tom Hayes e Roger Darin, poderão ainda responder em tribunal nos EUA, que requerem a sua extradição.
A Libor, a que estavam indexadas trocas globais de um total de 275 biliões de euros, perdeu o seu estatuto de taxa de referência e a ABB deixou de estar responsável pelo seu cálculo.
Na Europa Continental, as atenções viram-se agora para a Euribor. Segundo o Wall Street Journal, a Comissão Europeia investiga o lóbi bancário do Velho Continente por suspeitas de manipulação daquela taxa. Société Générale, Crédit Agricole, Deutsche Bank e HSBC são referidos como possíveis implicados. Na Ásia, os reguladores sul-coreanos, japoneses e singapurenses também investigam um caso similar ao que eclodiu na City londrina.

Terroristas e traficantes

O HSBC também protagonizou outro dos escândalos financeiros do ano. O banco britânico admitiu este mês que permitiu inadvertidamente que barões do narcotráfico mexicano depositassem e lavassem milhares de milhões de euros naquela instituição durante a década passada. Se tal resultou da ausência de mecanismos de controlo ou de conluio criminoso é algo que nunca se apurará cabalmente – o banco pagou 1,4 mil milhões de euros aos reguladores norte-americanos para encerrar o caso. No Reino Unido, o caso ganha especial relevância política, já que o actual ministro conservador para o Investimento e Comércio Stephen Green liderava o HSBC à altura dos factos.
Também o britânico Standard Chartered pagou 500 milhões nos EUA para arquivar um processo em que era suspeito de ter violado sanções internacionais através do financiamento de entidades iranianas.
Na Alemanha, os arranha-céus que albergam a sede do Deutsche Bank em Frankfurt foram visitados duas vezes em Dezembro do ano passado por centenas de agentes da polícia e de inspectores do fisco germânico. Numa das rusgas às torres gémeas, quatro pessoas foram detidas por eliminar milhares de emails e registos requeridos pela justiça. São vários os escândalos que abalam o maior banco privado alemão. Três antigos funcionários declararam recentemente aos reguladores norte-americanos que a instituição escondeu perdas de 9,2 mil milhões de euros para escapar a um resgate estatal – o Deutsche Bank nega a alegação. As autoridades investigam ainda um esquema de fraude fiscal em carrossel que envolverá o banco e várias empresas através da troca de créditos de emissão de dióxido de carbono. O Estado germânico terá sido lesado em centenas de milhões de euros. Ainda em Dezembro do ano passado, a justiça alemã condenou ainda o banco a indemnizar os herdeiros do falecido e falido magnata dos media Leo Kirch numa soma de até 1,5 mil milhões de euros pelo seu papel no colapso financeiro do grupo Kirch.
Acusando a pressão da polícia e do fisco, o co-presidente do banco, Jürgen Fitschen, telefonou ao primeiro-ministro do Estado germânico de Hesse a condenar a actuação indiscreta das autoridades. A conversa terminou nas páginas da Der Spiegel, e agora é a classe política alemã que ataca a cúpula dirigente do Deutsche Bank.
Em Frankfurt, Londres ou Nova Iorque, os grandes banqueiros repetem mais uma vez promessas de uma reflexão sobre os erros cometidos, de colaboração com a justiça e de criação de novos mecanismos de controlo. Mas, e também mais uma vez, cidadãos, políticos e analistas dão pouco crédito às suas palavras. (Sol.pt)

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