segunda-feira, 9 de abril de 2012

Milhares de vendedores arriscam a vida para sobreviver


O caos domina no Mercado Vulcano, no Município de Maputo, e esta instituição assume a sua incapacidade de repor a ordem no local Maputo (Canalmoz) - São milhares de mulheres e crianças, mas também de homens, que logo pela manhã – antes do nascer do Sol – começam a ocupar a parte exterior do Mercado Vulcano, na cidade de Maputo. Na verdade, já não há limites entre o mercado e a zona residencial. As pessoas sentam-se no chão, em sacos, pedaços de papelão ou em capulanas, para venderem qualquer coisa e assim poderem ganhar algo para siutentarem as suas vidas. Tomate, cebola, temperos, hortaliças, amendoim, milho, feijão … enfim, uma lista infinita de produtos é o que se vende debaixo de Sol escaldante e exposto a todos os perigos que podem ser fatais. Não há absolutamente nenhuma higiene. O desespero de quem vende é tal que para verem se amealham algo para o seu sustento diário cada vez mais difícil qualquer prática vale. Os vendedores do mercado Vulcano arriscam as suas vidas para sobreviver e assim põem também em risco as vidas dos consumidores. Vendem à beira da linha-férrea e expõem os parcos recursos que procuram comercializar ao lado de uma enorme cratera aberta pela erosão. Qualquer escorregadela do vendedor ou do cliente torna-se perigosa. A queda pode terminar na Avenida Joaquim Chissano – também conhecida por via rápida. O período está iminente e as autoridades já nada podem fazer evitar aquele descalabro, nem tentam. A Reportagem do Canalmoz esteve no local e conseguiu convencer alguns vendedores a partilhar as suas experiências do dia a dia naquele local. Sim, convencer porque nem todos estão dispostos a perder um minuto da caça aos clientes para falar à Imprensa. Olga Pinto, vendedeira de diversos produtos alimentares no mercado Vulcano, reconhece o perigo a que está exposta ao vender naquele espaço, mas diz que “não há espaço suficiente para todos no interior do mercado” e “quem não tem espaço, mas quer ganhar a vida, é forçado a arriscar a própria vida para não morrer à fome”. “Não é porque não sabemos que é arriscado vender neste lugar, tendo em conta a profundidade da cova e o lixo que está ao nosso lado, mas uma vez que aí dentro não há espaço, só podemos fazer as nossas actividades aqui”, explicou a vendedeira. “Fazemos necessidades nas esquinas do mercado” O Mercado Vulcano é um dos vários mercados da capital que espelham a incapacidade da edilidade liderada por David Simango, melhorar as condições de vida dos munícipes. O espaço embora impróprio para a venda de produtos, é legitimado pela edilidade através da cobrança da taxa diária de ocupação de espaços públicos. 

Os sanitários são a outra face da inércia da edilidade. Encontram-se sujos e a transbordar de fezes. Sem alternativa, alguns vendedores recorrem ao mesmo local em que se vendem produtos comestíveis para fazerem as necessidades biológicas. O cheiro dos sanitários é insuportável e por todo o lado se vê gente a urinar e até a defecar. “Aí dentro não dá para entrar. As condições higiénicas estão péssimas. Nós somos obrigados a fazer as nossas necessidades nas esquinas do mercado”, disse um jovem vendedor de recargas de crédito das empresas de telefonia móvel. O lixo está aos montes por todo o lado. Apesar de cobrar taxas pela ocupação do espaço, o município não recolhe os resíduos sólidos produzidos pelos vendedores. O cheiro de diversos produtos degredados e a proliferação de bactérias causadas pelo lixo atentam contra a saúde pública, mas nem as autoridades da Saúde se preocupam com o que ali está a acontecer, nem o Município dá sinais de ter a mínima preocupação pelo que aquilo representa de atentado à saúde pública. Município incapaz de repor a ordem O Canalmoz ouviu a edilidade de Maputo para comentar a imundice que se vive no local. Afinal o município diz estar a par do que se passa, mas reconhece que falta-lhe capacidade para repor a ordem. E nenhuma autoridade ali vai. O governo central perante a incapacidade municipal também não intervém. O vereador de Mercados e Feiras no Conselho Municipal da cidade de Maputo, António Tovela, disse ao Canalmoz que todos os vendedores deviam estar dentro do mercado, mas, segundo ele, há tendência de as pessoas fazerem actividades comerciais fora do local oficial, alegando que é onde “há mais negócio”. Tovela reconhece que a venda de produtos fora do mercado acontece de forma ilegal mas apenas acrescenta que o conselho municipal está a trabalhar em coordenação com a polícia municipal, no sentido de sensibilizar os vendedores a estarem dentro do mercado. Mas reclama que “as pessoas são renitentes e preferem arriscar suas vidas por causa de dinheiro”. “Nós sensibilizamos para estarem dentro do mercado, ou mesmo fazer barraquinha nas suas casas para evitarem situações do género”, disse o vereador revelando-se completamente vencido e rendido. Sanitários em péssimas condições Se pela venda em locais impróprios a edilidade culpa os vendedores, pelo estado das sanitas diz que não existe dinheiro para os por a funcionar devidamente. António Tovela diz que o valor cobrado pela ocupação do espaço público para venda não chega para cobrir todas as despesas de manutenção do mercado, onde se inclui a manutenção das sanitas. “ O dinheiro da senha não cobre as necessidades dos mercados. Entretanto, estamos a trabalhar no sentido de criar condições mínimas de higiene em todos os mercados”, acrescentou Tovela. Apenas promessas que nunca são cumpridas enquanto vai sempre havendo dinheiro para certos funcionários públicos ostentarem viaturas de luxo… A saúde pública que aguarde por melhores dias. Quanto aos custos da medicina curativa pelos vistos também ninguém faz contas. É em suma a capital do país entregue a sua sorte. (Arcénia Nhacuahe)

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