sexta-feira, 23 de março de 2012

Millennium bcp. Entre rumores de falência até à troika. Os dias difíceis de Santos Ferreira


Santos Ferreira não deve terminar o segundo mandato à frente do BCP. Já admitiu, sem o referir, dar lugar a "sangue novo". Eleito em Janeiro de 2008, foi reeleito em Abril do ano passado. Terminaria mandato em 2013. A história dos dias difíceis.

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O actual presidente do BCP não teve dias fáceis à frente da instituição financeira. Aliás, logo a entrada foi atribulada. Santos Ferreira demitiu-se da concorrente Caixa Geral de Depósitos para assumir a presidência do Millennium bcp em Janeiro de 2008. Defrontando, na assembleia geral de accionistas, a candidatura de Miguel Cadilhe, Santos Ferreira sairia, nesse 15 de Janeiro de 2008, vencedor sem margem para dúvidas. A lista de Santos Ferreira conseguiu 97,76% dos votos. Cadilhe, derrotado com 2%, não chegou para dividir accionista.

A polémica da eleição não tinha apenas a ver com a entrada de Santos Ferreira, directamente vindo da Caixa Geral de depósitos. Com ele levou mais dois administradores do banco público, Armando Vara e Vítor Fernandes. E por isso se falou da politização de um banco privado. Os três administradores tinham sido escolhidos para a Caixa pelo Governo de Sócrates e agora passavam directamente para a banca privada. Armando Vara e Santos Ferreira são assumidamente socialistas. O Governo era liderado pelo PS.

Armando Vara não chegou ao fim do mandato. Demitiu-se, em Julho de 2010, na sequência do seu envolvimento no processo Face Oculta, onde é arguido. Demitiu-se nessa altura, mas mantinha-se no banco desde 2009, com o aval do presidente do BCP, que, no entanto, não deixou de afirmar que o envolvimento do seu administrador no processo afectou a imagem do banco. Armando Vara suspendeu o mandato na administração em Novembro de 2009, mas só se demitiu em 2010. Entretanto, manteve-se no banco, a receber, mas sem funções específicas.

Passado o caso Vara, Santos Ferreira ainda teve de enfrentar um outro caso: WikiLeaks. Em Dezembro de 2010, a notícia caia ao colo de Santos Ferreira. O presidente do Millennium BCP terá proposto aos Estados Unidos fornecer informações sobre as actividades financeiras do Irão como contrapartida para manter boas relações com Washington e realizar negócios com Teerão. O Millennnium bcp negou.
Mas num momento em que a banca atravessa acabam por ser episódios isolados e quase gotas no oceano que se chama crise de crédito e financeira.
Quando assumiu a presidência, Santos Ferreira apontava como principais desafios recuperar os resultados do BCP e recuperar a sua cotação, mas logo nesse ano leva com a falência da Lehman Brothers. Durante o mandato de Santos Ferreira, a cotação do banco desceu para níveis nunca atingidos. A 11 de Novembro de 2011, o BCP fixou o seu mínimo histórico nos 9,7 cêntimos por acção.
Esperam-se os resultados de 2011 do BCP a 6 de Fevereiro. Podem não ser uma boa surpresa, mas desde que assumiu a liderança do banco o BCP conseguiu levantar 2,5 mil milhões de euros em capital, o que permitiu à instituição mais do que duplicar o nível de solvabilidade. O “core tier 1” passou de 4,3% em 2007 para 9,1% em Outubro. Como explica hoje o Negócios, um pouco mais de metade deste esforço foi conseguido com recurso aos accionistas.
As exigências de capital à banca nunca foram tão severas por imposição da troika, mas também por imposições da associação bancária europeia. O que tem exigido reforço de capital.
Os bancos estão ainda obrigados a diminuir a desalavancagem, diminuindo o peso dos créditos face aos depósitos. O BCP, como a maior parte dos bancos, sofre com a crise, mas a instituição de Santos Ferreira chegou a ter de fazer um comunicado desmentido o cenário de falência que estava a ser avançado em missivas propagadas pela Internet e por SMS. Desmentiu e fez queixa à Procuradoria-Geral da República.
A análise ao primeiro mandato do BCP e o início deste segundo, que vai até 2013, não fica concluída sem as mudanças accionistas. Santos Ferreira entra no meio de uma guerra fratricida entre accionistas. Acalmou por momentos, mas o BCP esteve sempre no radar de possíveis mudanças accionistas. A Sonangol, com 12,5%, poderá reforçar até aos 15%. E poderá estar a negociar com bancos brasileiros e chineses a tomada de posição de uma participação no capital do banco.

Os desafios ainda são muitos. Santos Ferreira deixa uma instituição relativamente diferente do que era quando chegou. Não vendeu, como chegou a pretender, a operação na Polónia, mas reforçou em África. Também “apanhou” com a crise soberana grega, onde o BCP tem uma operação. Pode-se dizer que Santos Ferreira levou com quase tudo. Mas manteve-se para o segundo mandato. Agora, abre caminho para a sua substituição.
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