terça-feira, 6 de março de 2012

Inspirados pelos “grandes” raptores. Raptos agora nos bairros – admite a Polícia em Maputo



Maputo (Canalmoz) – Os casos de raptos que nos últimos meses vêm acontecendo na cidade de Maputo tendo como vítimas preferenciais empresários moçambicanos de origem asiática, estão agora a inspirar “pequenos” raptores nos bairros periféricos. Os “grandes” casos foram vistos em alguns círculos de opinião como casos que afectavam apenas empresários de origem estrangeira muito embora se tratasse de moçambicanos a quem as próprias autoridades procuraram desclassificar como nacionais. Mas agora a prática está a estender-se e a alastrar para as comunidades menos abastadas deixando de abranger apenas os empresários de sucesso e abastados.
Na semana passada, a cidade da Beira ficou chocada pelo rapto e posterior assassinato de duas crianças. Enquanto isso, no município da Matola foi raptado mais um empresário e escondido numa residência precária no bairro do Maxaquene. A Polícia admite que estes são casos isolados, mas diz tratar todos com a mesma seriedade.
“Um senhor de nome Laurentino Sousa Marques, comerciante, residente na Matola, foi raptado por três indivíduos e levado para Maxaquene, onde foi mantido em cativeiro. A Polícia tomou conhecimento do cativeiro e efectuou diligências para resgatar a vítima. Em conexão com este caso, foram detidos três indivíduos: Ângelo Moiane, de 19 anos, Ilídio Carlos, de 36 anos, e Artur Armando, de 32”, disse Arnaldo Chefo, porta-voz do Comando da PRM na cidade de Maputo, admitindo que a Polícia não relaciona este “pequeno caso com os demais raptos que têm obrigado a alguns empresários a abandonar o País”.
Depois de narrar este último caso de rapto, que de certa forma foi conduzido com “amadorismo” pela parte dos criminosos e culminou com o resgate da vítima, questionámos ao inspector e porta-voz da Polícia, na cidade de Maputo, Arnaldo Chefo, sobre a possibilidade de os “grandes” raptores estarem a inspirar “pequenos” criminosos.
Chefo admitiu que “esta é uma leitura que pode ser correcta”.
“Sim, pode-se considerar esta possibilidade (de réplicas de raptos nos bairros)”, disse Chefo que entretanto fez questão a afirmar que “a Polícia encara todos os casos de rapto com a mesma seriedade”.
Porém, dos raptos dos empresários nenhum dos casos até agora foi esclarecido pela Polícia.
Ainda não houve vítimas resgatadas pela Polícia. As famílias das vítimas é que têm pago para recuperar os seus familiares das mãos dos criminosos.
A Polícia só consegue capturar os raptores de bairros.
Dos raptores e eventuais mandantes dos casos em que estiveram a ser solicitados resgates na ordem de milhões de dólares americanos, nenhum foi ainda apresentado pela PRM. O governo já elogiou inclusivamente o desempenho da PRM mas a sociedade continua a aguardar por esclarecimentos.
O Governo já dedicou toda uma reunião do Conselho de Ministros para avaliar a questão dos raptos e no final do dia disse que estava satisfeito com o desempenho da Polícia, mas também até agora se mantém mudo.
O Conselho de Ministros não apresentou resultados visíveis ao público. Enquanto isso continuam a correr informações de que o silencio que a PRM e o Governo estão a manter sobre os raptos dos empresários é devido ao facto de ter sido apurado que há elementos que não convém desvendar como cúmplices do “complot criminoso”.

Terror nos bairros suburbanos

Agora o pavor passou para os bairros onde vive gente carenciada. Pais e encarregados de educação desses bairros andam apreensivos com seus filhos que habitualmente saem do quintal e brincam nas ruas das comunidades onde vivem. O medo de as crianças saírem para só voltarem a casa depois de pagamento de um resgate convive com os pais.
O caso da Beira, onde crianças raptadas acabaram mortas, veio exacerbar este medo que já se sente também em Maputo.
Os raptos de crianças nos bairros periféricos em Maputo, Matola e arredores, é agora a conversa do dia-a-dia. Com a ausência da Polícia, as pessoas apenas confiam a sua segurança a Deus. Está instalado um clima de pavor indescritível. (Borges Nhamirre)

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