sexta-feira, 23 de março de 2012

IGAI abre processo para averiguar agressões a jornalistas


RTP, com Lusa
A Inspeção-geral da Administração Interna já abriu um processo de averiguação aos incidentes decorridos ontem durante a greve geral, onde dois fotojornalistas foram agredidos pela polícia. Também a PSP já terá aberto um inquérito ao sucedido e promete “verificar” o que realmente aconteceu. Contudo, as investigações não chegam à Oposição, que quer explicações do ministro da Administração Interna. O Bloco de Esquerda pediu mesmo uma audição a Miguel Macedo no Parlamento, para explicar a "violência gratuita" e a "intervenção desproporcionada" dos agentes da PSP.
O Ministério da Administração Interna (MAI) lamentou hoje, em comunicado, os incidentes com jornalistas verificados na quinta-feira no Chiado, em Lisboa, adiantando que a Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) já abriu um processo de averiguações, "sem prejuízo das diligências entretanto desencadeadas pela PSP sobre os mesmos factos".

Ainda durante a noite de ontem, a PSP divulgou um documento onde prometia averiguar os incidentes, para "verificar a legalidade dos atos que as fotos demonstram", acrescentando que isso "será feito no mais curto intervalo temporal". Segundo o jornal Público, o organismo terá mesmo aberto um inquérito sobre os confrontos.

Ontem, durante a greve geral, a polícia e elementos da manifestação promovida pela plataforma 15 de Outubro envolveram-se em confrontos junto ao Largo do Chiado, em Lisboa. O incidente provocou vários feridos ligeiros, incluindo dois fotojornalistas, um da agência Lusa e outra da AFP, que terão sido agredidos pelas forças policiais enquanto recolhiam imagens da manifestação. No Porto também há testemunhos de incidentes entre manifestantes e polícia.
ornalistas juntaram-se hoje frente à PSP

Em solidariedade com os jornalistas agredidos ontem pela polícia durante a manifestação, várias dezenas de jornalistas, a maioria da Lusa, estiveram esta tarde concentrados em frente à Direção Nacional da PSP, no Largo da Penha de França, em Lisboa.

Dois representantes dos participantes na concentração foram recebidos pelo diretor nacional-adjunto da PSP, superintendente Paulo Lucas, a quem entregaram uma carta subscrita pelos jornalistas da Lusa na qual "condenam e repudiam" a atuação das forças policiais.

Poucas horas depois dos incidentes, a Direção de Informação da Lusa fazia um protesto formal, enviado por carta ao diretor nacional da PSP, contra "a agressão", por agentes da PSP, do fotógrafo da agência José Sena Goulão, que estava "devidamente identificado como jornalista"
Oposição quer explicações do ministro da Administração Interna
O Bloco de Esquerda (BE) apresentou ao final da manhã um requerimento a pedir “com caráter de urgência” a audição do ministro da Administração Interna na Assembleia da República para explicar a "violência gratuita" e a "intervenção desproporcionada" dos agentes da PSP sobre os jornalistas e as pessoas que se "manifestavam pacificamente".

"Nós queremos que o senhor ministro esclareça de facto o que é que se passou, uma vez que é a segunda greve geral em que a atuação das forças de segurança deixa muitas dúvidas", afirmou a deputada bloquista Cecília Honório.

“Queremos saber que forças policiais estiveram no terreno, como é que agiram, o que significa estas estratégias reforçadas no contexto da greve geral e das manifestações e qual foi a atividade dos eventuais agentes infiltrados”, exemplificou a deputada.

Também o PS quer questionar Miguel Macedo sobre o " excesso de força policial" que "atingiu de forma totalmente inaceitável jornalistas que estavam a fazer o seu trabalho", disse à Agência Lusa um porta-voz dos deputados socialistas.

Ainda esta manhã, o Sindicato de Jornalistas exigia igualmente "explicações públicas por parte do ministro da Administração Interna, na medida em que o comportamento da PSP é intolerável num Estado de Direito Democrático" e pedia que fossem apuradas "todas as responsabilidades até às últimas consequências – disciplinares e penais – não só pelas agressões, mas também pela violação clamorosa da liberdade de informação".
MAI quer discutir procedimentos a seguir pelos jornalistas
Na nota divulgada esta sexta-feira, o Ministério da Administração Interna afirmou ainda que vai convidar o Sindicato dos Jornalistas e os diretores de informação dos órgãos de comunicação social para reuniões, na próxima semana, tendo em vista "a adoção de procedimentos adequados no sentido de evitar a ocorrência futura de idênticos incidentes", assegurando que tudo fará para conciliar a necessidade de garantir a tranquilidade e ordem públicas com o exercício do direito à informação.

A intenção do ministério vem em sentido semelhante à queixa da Direção Nacional da PSP, que no comunicado emitido ontem à noite afirmou que tem feito diversos apelos à "correta identificação" dos jornalistas durante as manifestações e a sua “devida colocação no terreno”, algo que diz não ter acontecido nos protestos de ontem.

Contudo, o presidente do Sindicato de Jornalistas alertou esta manhã para o perigo de os jornalistas estarem sempre identificados nos acontecimentos de rua, defendendo que esta deve ser seguida por princípio mas não pode se transformar numa lei.

"Há circunstâncias em que a cobertura dos acontecimentos pode ser desagradável para uma das partes e a identificação do jornalista torna-o um alvo a abater, no sentido de que ele é uma testemunha profissional de um acontecimento, é os olhos e os ouvidos de um acontecimento, e uma das partes em conflito pode ter interesse em neutralizar essa testemunha para evitar que o seu comportamento seja difundido", afirmou Alfredo Maia à Lusa.

Também polémica é a colocação dos jornalistas nas manifestações que, de acordo com a polícia, deverá ser atrás da barreira policial que os separa dos manifestantes em geral. Para o presidente do Sindicato de Jornalistas, aquilo que “aparentemente visa proteger os jornalistas” também tem “o seu lado perverso porque a captação de imagens, sons e testemunhos pode tornar-se unilateral", com a captação apenas “dos manifestantes e não da polícia”.
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=538610&tm=8&layout=121&visual=49
Imagem: Luís Efigénio, Lusa

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