segunda-feira, 12 de março de 2012

Canal de Opinião. Por Eugénio Costa Almeida. O que querem os líderes moçambicanos?


Maputo (Canalmoz) – Afonso Dhlakama, líder do partido da “Perdiz” (a Renamo), andava a clamar, ainda e cerca de 20 anos depois, que a Frelimo não estava a cumprir com os Acordos de Paz de 1992, assinados em Roma.
Vai daí que ameaçava juntar os seus antigos guerrilheiros numa das cidades que mais o apoiavam e provocar rebuliços – tantos quantos os necessários – para que o Governo Central moçambicano (liderado pela Frelimo, desde a independência) assumisse os ditos erros de casting e fizesse letra os Acordos.
Se foi ou não devido às constantes manifestações de denúncia de Dhlakama, o certo é que o “Perdiz-mor” conseguiu que algumas dezenas de pessoas próximas da Renamo, chamados “desmobilizados” se juntassem numa das casas-sede provinciais da “Perdiz”, na rua dos Sem Medo, ameaçando o actual status quo moçambicano com manifestações nas ruas de Nampula, a chamada capital do norte.
Recordemos que um dos itens do Acordo de há cerca de 20 anos – depois deste acordo já houve várias eleições legislativas, presidenciais e autárquicas, pelo que esse item não se justifica mais – previa que o Estado moçambicano prometia “ que um determinado número [de ex-guerrilheiros da Renamo] teria o estatuto de polícia para guarnecer as instalações e quadros superiores”, do maior partido da Oposição.
Ora isto nunca, segundo Dhlakama, terá alguma vez acontecido.
E volta-se a perguntar se ainda se justifica que o tal item seja mentido, até porque uma parte dos ex-guerrilheiros terá sido incorporado quer nas forças armadas moçambicanas, quer, talvez em menor número, na polícia moçambicana.
O certo é que na passada quinta-feira, Dia Mundial da Mulher, Nampula acordou ao som de tiros trocados entres os desmobilizados perdigotos e a Forças de Intervenção Rápida da polícia moçambicana de que terão resultado várias vítimas, uma das quais, segundo fontes da Renamo, o comandante da polícia.
A pergunta que se coloca é quem ganhou com este desenvolvimento além de aumentar o receio das populações numa escalada estúpida e imprevisível entre duas forças políticas que só deveriam se guerrear nos únicos palcos disponíveis: o Parlamento e a Comunicação Social.
Como é possível que cerca de 20 anos depois ainda haja armas de fogo – porque de certeza que a tal vítima mortal terá sido devido a arma de fogo (é pouco crente que só as mãos face ao poderio das FIR fosse suficiente para o atingir mortalmente) – em mãos indevidas quando a única arma que deveria existir, em todas as democracias, seria a Voz e a Pena dos “guerrilheiros”.
Vamos aguardar pelos próximos desenvolvimentos e que o bom senso chegue às cabeças dos líderes políticos moçambicanos. (Eugénio Costa Almeida, Publicado no Notícias Lusófonas, na rubrica “Colunistas” em 10.Março.2012)

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