quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Os Templários (15). São Bernardo, o admirado e o temido


MICHEL LAMY

Fundamentai as constituições dos Templários de tal forma que eles se não afastem dos ruídos e dos tumultos da guerra e continuem a ser os auxiliares úteis dos príncipes cristãos... Fazei de maneira que possamos, se Deus o permitir, ver em breve uma conclusão feliz desta questão. Dirigi por nós orações a Deus. Que Ele vos tenha na Sua Santa Guarda.

São Bernardo
São Bernardo deveria, efetivamente, desempenhar um papel importante no progresso da Ordem. Convém determo-nos um pouco nesta personagem sobre a qual Marie-Madeleine David escreve: Bernardo é o homem mais representativo do renascimento do século XII.

Nascido no final do século XI, em 1090, e falecido em 1153, insere-se em plena época de fecundidade intelectual e de transformações econômicas e sociais. Nascido no castelo de Fontaine, a noroeste de Dijon, era o terceiro filho da Dwna Aleth. Antes do seu nascimento, a sua mãe tivera sonhos curiosos. Via o seu futuro filho sob a forma de um cãozinho que ladrava furiosamente. Inquieta, abrira-se com um religioso que a acalmara afirmando-lhe que, mais tarde, o seu filho apenas ladraria para defender a Igreja.

O pai de Bernardo, Tescelin, era senhor do castelo de Fontaine e os seus compatriotas tinham-no apodado de «o baio», porque era loiro-arruivado. Tinha a fama de ser um homem de honra, corajoso e fiel ao seu suserano, o duque da Borgonha.
Aleth, que era filha do duque de Montbard, velara por que o seu filho recebesse uma boa educação. Confiara-o, pois, aos cônegos de Saint-Vorles, em Châtillon-sur-Seine. Eles haviam-lhe ensinado o trivium (gramática, retórica, dialética) e o quadrivium (aritmética, música, geometria, astronomia) e tinham-no obrigado a ler Cícero, Virgílio, Ovídio, Horácio. Também o tinham ajudado a vencer uma timidez quase doentia.

Foi na igreja de Saint-Vorles que caiu em êxtase perante Maria, vendo aquela «imagem da Mãe de Deus, feita de uma madeira que a idade escureceu mais do que o sol»? Fora essa virgem negra de madeira que, miraculosamente, teria apertado o seu seio, de modo que teriam caído três gotas de leite nos lábios de Bernardo.
Os seus contemporâneos descreviam o jovem Bernardo como belo, esbelto, com uma cabeleira revolta, um olhar que se impunha. Mas essa beleza não era para as mulheres, porque pretendia preservar a sua castidade. Um dia, pensando que olhara uma mulher com demasiada complacência, fora mergulhar num lago gelado para apagar o desejo que sentia crescer dentro de si. Do mesmo modo, tratara com desprezo uma outra mulher que viera meter-se, nua, na sua cama. Pelo menos, é o que conta a sua lenda dourada.

De qualquer modo, escolheu o claustro que comparava à escola de Deus. Robert Thomas lembra-nos como São Bernardo via os monges: Tal como os anjos, vivem puros e castos; tal como os profetas, elevam os seus pensamentos acima das coisas da terra; tal como os apóstolos, deixam tudo e vão ouvir a palavra do Mestre, recordá-la nos seus corações, esforçar-se por a guardar, por a pôr em prática. Cada mosteiro será uma escola onde Jesus ensina.
São Bernardo escolheu Cister onde entrou, no tempo do abade Estêvão Harding, com cerca de trinta companheiros que mais ou menos arrastara consigo.

Definia-se como alguém que procurava Deus e pensava que, neste caso, «quem procura, encontra». Era exigente com os outros, mas antes de mais, consigo mesmo. Recusava-se a respeitar apenas o voto de obediência que lhe não parecia um compromisso suficiente. Era necessário ir, além disso. Não podia compreender que um monge se ficasse pelo mínimo obrigatório. Escrevia: A obediência perfeita ignora o que é apenas uma lei, não está encerrada em limites; a vontade ávida estende-se até aos limites da caridade, entrega-se por si mesma a tudo o que lhe é proposto e, com o fervor de uma alma ardente e generosa, vai sempre em frente, sem ter em conta limites ou medidas. Para ele «a medida de amar a Deus é amar sem medida».

Bernardo não se contentava com meditar, adorar. Estudava também. Lia as escrituras, comentava-as, dissecava-as, até, procurando ir até à fonte em vez de se limitar aos comentadores precedentes. O que estava em jogo em tudo isto: conhecer-se a si mesmo e conhecer Deus. Mas conhecer-se consiste também em descobrir quão insignificante se é. No entanto, a sua atitude na vida desmentiu, amiúde, essa aparente humildade.

São Bernardo, o admirado e o temido
Bernardo em breve se tornou notado e foi a ele que se confiou a fundação da abadia de Clairvaux, em 1115, num local que tinha o belo nome de Vale de Absinto. Afirmou-se lá e continuou a pregar a humildade, e nem por isso deixou de ser cada vez mais seguro de si, a tal ponto que é necessário ser um hagiógrafo para negar o orgulho de São Bernardo. Afirmava:
Os assuntos de Deus são meus e nada do que lhe diz respeito é estranho para mim.

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