sábado, 17 de outubro de 2009

Os Templários (14). Os Templários e os segredos de Salomão


MICHEL LAMY

Em resumo, podemos considerar como uma quase certeza o fato de Hugues de Payns e Hugues de Champagne terem descoberto documentos importantes, na Palestina, entre 1104 e 1108. Esses achados estiveram, sem dúvida, na base da constituição dos nove primeiros Templários e devemos ligá-los à decisão de lhes atribuir, como residência, o local do Templo de Salomão.
Aí, levaram a cabo escavações. Nessa fase, estava fora de questão aumentarem os seus efetivos, por causa do segredo. As suas pesquisas devem tê-los levado a encontrar algo realmente importante, pelo menos a seus olhos. A partir desse momento, a política da Ordem mudou.

Que tinham encontrado? A Arca da Aliança? Um modo de comunicarem com poderes exteriores: deuses, elementares, gênios, extraterrestres ou outros? Um segredo relativo à utilização sagrada e, por assim dizer, mágica da arquitetura? A chave de um mistério ligado à vida de Cristo ou à sua mensagem? O Graal? A forma de reconhecer os locais onde a comunicação, tanto com o Céu como com os Infernos, é facilitada, com o risco de libertar Satã ou Lúcifer?

Poderíamos pensar que nos encontramos numa novela de H. P. Lovecraft, é certo, mas estas perguntas, embora não sejam racionais, surgem imperativamente no contexto da época.
Iremos procurar, ao longo dos próximos capítulos e dos indícios que nos irão ser fornecidos pela história da Ordem, separar o trigo do joio e restringir os nossos pressupostos, explicar por que razão, a partir de então, a política dos Templários mudou brusca e radicalmente.


SÃO BERNARDO E OS MONGES-GUERREIROS
Obter uma regra

Em 1127, quando Hugues de Payns regressou ao Ocidente em missão especial, encontrava-se acompanhado por mais cinco Templários. Ora, ainda eram apenas nove, ou talvez dez. Logo, tinham ficado apenas três ou quatro no Oriente para assegurarem a falada proteção dos peregrinos. Mesmo que tivessem junto deles alguns sargentos de armas, a hoste deveria ser bem magra no caso de um reencontro com o inimigo. Decididamente, essa missão era muito mal desempenhada. Isso prova insofismavelmente que apenas se tratava de um «disfarce». Aliás, houve que esperar até 1129 para se ver os Templários enfrentar pela primeira vez os infiéis em combate.

Isso não impediu os modestos guardiões do desfiladeiro de Athlit de se verem chamados «ilustres pelas suas façanhas guerreiras» inspiradas diretamente por Deus, e isso ainda antes de se terem batido verdadeiramente. A propaganda não é, por certo, uma invenção moderna mas este exemplo é especialmente interessante. Mostra que a publicidade que lhes foi feita não se baseava numa realidade e se integrava, deliberadamente, naquilo que podemos considerar uma segunda fase da Ordem: o seu desenvolvimento e a sua transformação numa ordem militar. Do pequeno número discretamente ocupado com a descoberta de segredos importantes, passava-se à procura do poder, o que indica que as pesquisas tinham, sem dúvida, dado os seus frutos e estavam terminadas.

Convinha, desde logo, pôr em execução a política que elas tivessem sugerido e podemos perguntar-nos se, a partir desse momento, não existiu uma vontade de criar uma espécie de poder sinárquico que se sobreporia aos reinos.
Hugues de Payns parou em Roma, antes de seguir para a Champagne. Ali, encontrou-se com o papa Honório II (1124-1130) que se interessava muito por aquela Ordem nascente. Em Janeiro de 1128, Hugues de Payns encontrava-se em Troyes para participar no concilio onde foi proposto adotar uma regra especial para a Ordem do Templo.

O texto, nas suas linhas gerais, fora elaborado em Jerusalém. Tratava-se também de dar a conhecer a Ordem, de começar a recrutar, recolher dádivas, estimular a fundação do poder futuro do Templo. Hugues de Payns tinha no bolso a carta de recomendação do rei de Jerusalém, Balduíno II; que sem dúvida financiara a viagem. Dirigia-se a São Bernardo e pedia-lhe que desse o maior apoio aos projectos de Hugues de Payns e dos seus companheiros. Pelo seu lado, o patriarca de Jerusalém pedia ao papa a concessão de uma regra especial a esses monges.

A carta de Balduíno II a São Bernardo referia:
Os irmãos Templários, que Deus inspirou para a defesa desta província e protegeu de uma forma notável, desejam obter a confirmação apostólica bem como uma regra de conduta. Devido a isso, enviamos André e Gondemarc, ilustres devido às suas proezas guerreiras e pela nobreza do seu sangue, para que solicitem ao Soberano Pontífice a aprovação da sua ordem e se esforcem por obter dele subsídios e ajudas contra os inimigos da fé, coligados para nos suplantarem e derrubarem o nosso reino. Sabendo bem quanto peso poderá ter a vossa intercessão, tanto junto de Deus como do seu vigário e dos outros príncipes ortodoxos da Europa, confiamos à vossa prudência esta dupla missão cujo êxito nos será muito agradável.

Imagem: http://img2.mlapps.com/jm/img?s=MLB&f=88922472_3164.jpg&v=O

Sem comentários: