sábado, 3 de outubro de 2009

O 27 de Maio na Argentina. Os 'voos da morte'


Quando a oposição é fraca, sonâmbula, fala, fala, baralhada, titubeante, e nada decide, a não ser a vaidade enjoativa. Oposição que se confunde com o poder pela verborreia constante. Então é assim que acontecem os 27 de Maio.

«O ex capitão dizia que as vítimas 'caíam como formiguitas no mar'

Juan Ignacio Irigaray Buenos Aires
Actualizado sexta-feira 02/10/2009 16:54 horas

EL MUNDO

Outro oficial retirado e ex piloto da Armada foi detido na Argentina por ordem do juiz federal Sergio Torres, que investiga se o militar pilotou os 'voos da morte' com os que o regime ditatorial (1976-1983) se desfez de guerrilheiros e opositores políticos arrojando-os vivos ao Atlântico austral.

Fontes judiciais identificaram o preso como o capitão Emir Sisul Hess, de 70 anos, camarada da força armada de Julio Alberto Poch, o também ex marinheiro e desde 1998 piloto civil da linha holandesa Transavia que em 22 de Setembro passado caiu detido no aeroporto valenciano de Manises.

Hess vivia na cidade turística de Bariloche, 1800 quilómetros ao sudoeste de Buenos Aires, localizada entre lagos de água cristalina e as confluências nevadas da cordilheira dos Andes, onde vários nazis alemães e de outros países da Europa se refugiaram depois da II Guerra Mundial. Por exemplo, o oficial das SS do Terceiro Reich Erich Priebke viveu em Bariloche tranquilamente de 1947 a 1994, e incluso era um vizinho destacado, até que foi capturado e extraditado para a Itália. Ali cumpre agora prisão perpétua pela matança de 335 italianos nas Fossas Ardeatinas de Roma.

Ao nivelar a casa de Hess em Bariloche, as autoridades encontraram manuscritos do ex marinheiro relativos aos 'voos da morte', onde se dizia que os homens e mulheres arrojados ao mar "não sofriam, porque estavam dopados e caíam como formiguitas" no vazio. Segundo as fontes, algumas testemunhas que o conheciam disseram que o ex piloto naval costumava contar "com orgulho" as suas presumidas andanças na 'guerra suja' e incluso confiaram que "falava com ardor e ressentimento; era um tipo intimamente transtornado".
Nesta sexta-feira, o juiz Torres fará declaração como imputado a Hess e lhe perguntará acerca da sua presumível actuação na eliminação física de cerca de 900 prisioneiros nas masmorras da Escola de Mecânica da Armada (ESMA), um dos maiores campos da morte da ditadura. O magistrado já pediu a Espanha a extradição de Poch, detido e à disposição da Audiência Nacional, ao que imputou ter pilotado 'voos da morte' que produziram 950 vítimas.

"Na ESMA funcionou um sistema complexo de repressão, em que muitas pessoas participaram em distintas etapas: sequestro, torturas, encarceramento, tomada de decisões e eliminação física", comentou a fonte judicial. Na comissão rogatória à Justiça de Espanha, o juiz Torres fez constar os delitos que imputa a Poch: "Privação ilegal da liberdade, tormentos e tormentos seguidos de morte".

Poch foi detido a semana passada no aeroporto de Valência, onde chegou com um avião da companhia Transavia, na qual integrava o selecto grupo de comandantes 'sénior'. Era o último voo da sua carreira antes de jubilar-se e com ele viajavam a sua esposa argentina, um filho que também é piloto e a sua mulher. Era a sua última viajem antes de jubilar-se, os quais quiseram acompanhá-lo antes da jubilação. Poch encontra-se agora no cárcere de Picassent, em Valência.
Os métodos da ditadura

Nos 'voos da morte' a Armada argentina arrojou vivos e dopados ao oceano cerca de 4.500 guerrilheiros e detidos políticos que mantinha sequestrados na ESMA. Mas as marés do Atlântico devolveram alguns cadáveres à costa bonaerense. Por exemplo, nas praias de Santa Teresita apareceram em 1977 os cadáveres da fundadora das Madres de Plaza de Mayo, Azucena Villaflor, e a monja francesa Leonie Duquet, com os ossos feitos em pedaços pelo impacto.

As primeiras notícias dos 'voo da morte' escutaram-se de boca dos sobreviventes da Escola de Mecânica da Armada. Em 1995, o ex repressor e capitão de corveta da Armada Adolfo Scilingo confessou ter participado em dois destes voos. Agora cumpre uma pena de 640 anos de prisão em Espanha.

Na chamada 'guerra suja' da ditadura, as forças armadas sequestraram e fizeram desaparecer ou fuzilaram a 7.954 pessoas, segundo a Secretaria dos Direitos Humanos. Mas os organismos defensores dos Direitos Humanos asseguram que o número de vítimas ascendeu a 30.000 detidos desaparecidos. Actualmente há meio milhar de ex repressores detidos e à espera de juízo oral.»

Sem comentários: