quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Apartheid imobiliário (2)


Seres humanos? Já não sabemos o que isso é. Entretanto lá vamos apreciando a persistente campanha dos comentadores, eleitores para a Casa Negra. De vez em quando os nossos intelectuais saem dos túmulos e logo a eles regressam. E regra geral é assim a ascensão e queda do intelectualismo angolano. Ainda não se aperceberam que dum lado e do outro estamos cansados de palavras. Falta apenas o acto das filmagens onde o realizador costuma gritar: «câmara, acção!» «enquanto não passarem dos sapatos».

Como deputados e outros mandatados que enredam os negócios na política e isso nunca bate certo. Misturar as duas actividades é levar ao descalabro o que resta da casa da Mãe Joana. E os donos do poder não aprenderam, não desenvolveram nada. Continuam tal e qual como o serial killer de antanho. E agarram-se freneticamente a tal estilo de governação que acabarão como o submarino Kursk. Como é que não se há-de ser chauvinista! O angolano realizava um trabalho, chegou um inglês desempregado e roubou-lho. Isto é o que acontece com todos os estrangeiros que chegam a Luanda devidamente acobertados pela junta militar. Eles vivem, safam-se no país do outro, e nós na miséria, na fome, a vê-los prosperar, a nos roubar.

E os nossos intelectualóides continuam a vibrar os mesmos sons e o mesmo gestual das palavras. As mesmas orações não bentas, desditas. Já não vale a pena ouvi-los. O cansaço atingiu o limite de quem ainda esperava algo deles. Como pobres nabos que vegetam nas quintas nabais.
E os espoliados, deserdados lançados outra vez na mais ignóbil miséria pelos novos negreiros, como párias, apátridas vendem a sua desgraça de muitas maneiras. Por exemplo em garrafas plásticas com água bem fresca que vendem nas ruas. Mas a junta militar persegue-os, e o comportamento neonazi dos fiscais (?) do GPL-Governo da Província de Luanda caça-os, prende-os e desterra-os.

A única fonte de sobrevivência o vender qualquer coisa não se permite. Nem os brancos, não escondamos o falso nacionalismo e patriotismo, deixemos estes sofismas, o nos refugiarmos no colono português, tratava desta forma os negros angolanos.

Por aqui a água nas torneiras só desce, sobe de vez em quando e nas festas nacionais. Como um escravo que não a espera. E como os intelectuais dos quintais angolanos que são de fingimento, de trazer por casa, Angola viverá, dependerá exclusivamente de ONGs e coisas assim de… externa e eterna mendicidade. Viver num mundo (neste país, claro) extremado de maldade onde conseguir sobreviver é pura sorte.

Ao menos se a nossa oposição política deixasse de ser tumular. Mas que palhaçada democrática. Fazerem-se eleições e pronto. Estão os problemas resolvidos. O problema é que há muitos democratas e os tachos não chegam para todos. Por exemplo, com a infestação de democratas em Angola, os navios da democracia não suportam o peso e afundam-se.
Luanda, a cidade parte-paredes, a cidade amaldiçoada. E um jovem ameaça outro em tom de chacota: «É pá! Não me chateies. Vou-te queixar nos chineses, vais apanhar».
A governadora de Luanda, Francisca do Espírito Santo, não sabe onde colocar cerca de vinte mil pessoas que vivem numa vala de drenagem em Luanda. Que fraca visão governativa: Angola é tão grande, espaço é o que não falta.
É impossível viverem e venderem tantas, e tantas empresas imobiliárias em Luanda. Não há espaço, então para sobreviverem promovem a selvajaria, a espoliação, mais guerra que psicologicamente já começou, mas decerto virá, acontecerá. São estes os eleitos do Deus do terrorismo imobiliário?! Das ordens das hordas superiores?! Depois de mortos vão garantidamente para o reino da eterna especulação e lá reinarão.

In FOLHA 8

Imagem: Jornal de Angola

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